Quando entramos na loja Nagatasenkoujou é impossível não reparar nas seis tinas escavadas no chão, à direita. Normalmente somos recebidos por Beck, o simpático shiba inu que serve de mascote à loja, e o lenço azul que tem ao pescoço pode dar uma pista sobre a utilização destas tinas. Esta é a última oficina que resta na cidade de Izumo, província de Shimane, dedicada à arte de tingimento de tecidos denominada Tsutsugaki Aizome. E é uma das duas ou três que restam em todo o Japão.
Aizome é o nome pelo qual é conhecido no Japão o tingimento com a cor indigo. Actualmente é feito por um processo químico, mas a família Nagata continua a fazê-lo de forma tradicional na sua oficina. “Não é a mesma coisa”, diz Masao Nagata. “O processo de tingimento químico faz com que o tecido liberte a cor, ao passo que com o processo tradicional a cor não passa para a pele”. Quem já ficou com a pele em tom azulado depois de usar um gi ou um hakama indigo novo, sabe exactamente a que se refere.
A familia Nagata veio de Tokushima para Izumo no final do século XIX. Nessa altura havia cerca de 60 ou 70 casas de tintureiros na região. Hoje em dia restam apenas Shigenobu e Masao Nagata, pai e filho, respectivamente a quarta e quinta geração de tintureiros na família.
O processo começa com o mestre Shigenobu a desenhar num pano branco os motivos que vão ser impressos, e que tipicamente são desenhos tradicionais. Depois, usando uma pasta adesiva feita de arroz glutinoso, vai delinear os contornos dos desenhos. A seguir aplica farelo de arroz, que ajuda a pasta a assentar no tecido. O tingimento não chega aos locais onde a pasta assenta, o que faz com que o resultado final seja um desenho tradicional branco sobre um fundo azul indigo.
De seguida, o filho Masao Nagata toma conta do processo. Aplica água morna ao pano para ajudar ainda mais a delinear os motivos e mergulha os panos nas tinas, onde bacterias estiveram a fermentar durante duas a três semanas. Inicialmente a cor do tecido, depois de mergulhado durante uns três minutos, é um amarelo esverdeado, depois passa a verde, e finalmente a azul quando seca. O processo é repetido tantas vezes quanto maior for a tonalidade de indigo que se pretende como resultado final. Alguns tecidos são mergulhados duas ou três vezes para uma tonalidade mais clara, outros chegam a ser mergulhados dez a doze vezes para obter um azul mais profundo.
As bacterias que vivem nas tinas são responsáveis pela cor. Na verdade querem sair da água onde se encontram o mais rápido possível por isso agarram-se a qualquer coisa que seja mergulhada. Só que fora do meio líquido não conseguem sobreviver por mais de alguns segundos, acabando por morrer pouco depois. Os seus vestígios são o que fica no tecido, e o que acaba por lhe dar a sua cor. Este processo de fermentação usa flores secas, sake, e outros ingredientes. Masao explica que não pode divulgar muito uma vez que é um segredo de família.
Um vez terminado o processo de tingimento, os tecidos são lavados no pequeno ribeiro que existe à frente da oficina, de forma a limpar a pasta adesiva, e a revelar os motivos brancos sobre o fundo azul. Serão depois colocados a secar à entrada da loja, se o tempo estiver bom, e ficam assim prontos.
É difícil de ficar indiferente a estas peças uma vez terminadas. O indigo vivo é cativante, e os desenhos tradicionais contribuem para realçar ainda mais a cor. Há realmente algo de mágico quando se seguem processos tradicionais, em vez de cair na tentação da produção em massa dos processos industrializados. Espero que a família Nagata possa continuar com a sua tradição durante muitas mais gerações.