Em Grijó de Parada, aldeia do distrito de Bragança, no norte de Portugal, as máscaras são tradicionalmente feitas de lata. Mas o senhor António Pássaro faz as suas em madeira. “Estas não são para os caretos, são para decoração”, conta.
Pássaro, ou “o passarinho”, como a mulher Zélia lhe chama porque “era o mais novo da ninhada”, tem mais de oitenta anos, mas continua a trabalhar a madeira. Aprendeu com o pai que também era carpinteiro, e ainda tem ferramentas que herdou dele, como uma serra enorme que faz questão em mostrar. Hoje em dia faz máscaras a partir de ideias que tira de livros sobre as tradições de máscaras do norte de Portugal.
De sorriso afável e sincero, como é normal nas gentes de Trás-os-Montes, abre a porta da sua pequena oficina e convida-nos para entrar. Para ele, um pedaço de madeira não tem segredos. Somos recebidos na oficina por vários, uns maiores outros mais pequenos, que ele transformou em santos, bichos, e outras formas. Enquanto trabalha, vou apreciando cada canto empoeirado da oficina, as ferramentas, e as peças desarrumadas, umas até inacabadas, pensando nas histórias que terão para contar.
Quase dois anos mais tarde volto a Trás-os-Montes para fotografar as festas do solstício de inverno, juntamente com outros fotógrafos de Portugal e de Espanha. Ao despedir-me de um desses fotógrafos espanhóis, vejo uma máscara de madeira, de um demónio com chifres enormes, na bagageira do carro dele. “É do Pássaro! Comprei no outro dia em Grijó! Não para, está cheio de encomendas!”.
Fico feliz que apesar da idade avançada, o senhor Pássaro continue a fazer as máscaras que tanto gosta, e que continue a haver quem as aprecie tanto.