A Índia nunca esteve nos meus planos de viagem. Um dia o meu amigo Joao Almeida disse que ia lá e, como eu tinha duas semanas de férias, decidi acompanhá-lo. Focámos a nossa atenção no Rajastão, a maior e mais colorida região da Índia. As principais cidades do Rajastão têm alcunhas coloridas: Jodhpur é a cidade azul, e a parte antiga de Jaipur é conhecida como a cidade rosa. Mas não foram estas cidades que captaram a minha atenção, por mais coloridas que possam ser.
Bundi é uma cidade pequena quando comparada com outros lugares no Rajastão. É dominada pelo impressionante forte antigo, que fica no cimo de um monte a guardar a cidade. Na rua principal há algumas lojas de souvenirs, e ocasionalmente somos convidados para conversar e para um chai pelos vendedores, com a intenção velada de nos fazer olhar e talvez comprar alguns dos seus produtos.
Mas assim que saímos da rua principal e navegamos pelos becos entramos noutro mundo, muito mais tranquilo. Tão tranquilo quanto é possível na Índia. Temos na mesma de evitar as motos, que buzinam enquanto passam, e as vacas, que estão em todo o lado, mas em vez de sermos marcados como turistas, somos observados com curiosidade pelas pessoas que vão a caminho da sua lide diária.
Paro numa loja onde um amolador afia facas e tesouras na sua roda de pedra. Pergunto se o posso fotografar, ele sorri e acena com a cabeça afirmativamente. O alfaiate da loja ao lado, ciumento pelo meu interesse no seu vizinho, pede-me para entrar na loja dele e fotografá-lo também.
De seguida meto-me por um arco que vai dar a um beco pintado de azul, onde dois miúdos jogam às cartas sentados num atrelado. Param de jogar. o mais novo salta para as cavalitas do mais velho, e continuam a brincadeira.
Continuo, e à medida que passo por uma porta onde uma mulher varre a entrada de sua casa, sorri e brinca um pouco com a sua filha bebé. Do outro lado da rua, um homem com o cabelo tingido de vermelho lê o jornal em frente à sua loja, alheio à minha presença.
São muitas as pessoas que encontro nos meus passeios matinais pelo labirinto dos becos de Bundi. Até os leiteiros, com as suas motos com potes de latão dourado, começam a habituar-se à minha presença. De início parecem desconfiados, mas nos dias seguintes, quando me vêm outra vez, sorriem enquanto vão atender os seus clientes.
Os becos da cidade não têm menos cores que as outros lugares como Jaipur ou Jodhpur. Mas as verdadeiras cores de Bundi não estão nas paredes pintadas. Revelam-se na personalidade amistosa e acolhedora dos seus habitantes. E é isto que me faz querer regressar à Índia.
Apesar de nunca ter feito parte dos meus planos de viagem.