A província de Tochigi, a norte de Tokyo, não é das mais conhecidas do Japão. Tem uma área mais turística, a região de Nikko, que é património da Humanidade da Unesco, mas não é muito comum ouvir falar de outras cidades nesta região, a não ser como paragens de comboio por onde passamos a caminho de outros locais.
No entanto, a cada dois anos, e durante três dias, a cidade de Tochigi, que dá o nome à província, é palco de um dos muitos festivais que ocorrem no Japão, durante o Outono: o Tochigi Aki Matsuri (festival de Outono de Tochigi).
As origens deste festival remontam ao ano de 1874, quando pela primeira vez pessoas levaram andores (dashi) em parada pela cidade, em homenagem ao Imperador Jinmu, o primeiro Imperador do Japão (que reinou por volta do ano 660 AC). Nas edições seguintes estes andores foram sendo cada vez mais, com representações de figuras históricas ou lendárias. Denominados Edogata Ningyo Dashi, porque foram construídos durante o período Edo, têm mais de dois metros de altura, e um sistema mecânico engenhoso no interior, que lhes permite crescer ainda mais.
Cada andor é empurrado ou puxado por vários homens, vestidos a rigor com as cores da sua vila. Dentro, vão várias pessoas que tocam música tradicional em flautas shakuhachi de bambu ou tambores taiko. Quando dois destes andores se cruzam, são manobrados para ficar de frente um para o outro, e os seus respectivos líderes dão início ao buttsuke: um desafio entre duas vilas. Os músicos começam a tocar, e os restantes elementos entoam cânticos a plenos pulmões durante alguns minutos. Os que estiverem menos em sintonia com os músicos, perdem o ‘combate’.
Estes desafios duram até ao cair da noite. Nessa altura, as lanternas de papel dos dashi iluminam-se, e toda a gente aproveita para recuperar energias, comendo e bebendo numa das muitas bancas de comida, tão típicas dos festivais tradicionais japoneses.
É uma atmosfera relaxada e feliz, a que se vive neste festival. Todos são bem-vindos, desde as crianças que se divertem a berrar o mais alto que conseguem durante os desafios buttsuke, aos mais idosos que observam e relembram outras edições do festival ao contemplarem fotos antigas exibidas orgulhosamente em montras. Um dos participantes, surpreendido por ver um fotógrafo ocidental interessado pelo seu festival, oferece-me um kifuda, colar tradicional com uma placa de madeira de sândalo, igual ao que os puxadores dos andores normalmente usam ao pescoço.
Esta não foi a minha primeira experiência em festivais japoneses, mas fez com que passasse a olhar para eles de outra forma, e a querer participar e continuar a fotografar cada vez mais estes eventos.