Se passearem a pé pela aldeia de Genísio, no concelho de Miranda do Douro, e ouvirem um som rítmico – “ding, ding, ding” – devem segui-lo. É um dos dias em que o senhor Tibério Delgado acendeu a forja e está a malhar no ferro.
A aldeia não é grande por isso é fácil de seguir o som até à sua origem: uma pequena oficina de ferreiro, onde salta à vista imediatamente o grande fole, e a bigorna. Isso e a figura do artesão que, apesar dos seus quase 80 anos, continua a malhar o ferro quente, dando-lhe diversas formas. Aprendeu o ofício aos 12 anos, ao observar o pai, que por sua vez o tinha aprendido com o avô.
Em Trás-os-Montes, no canto nordeste de Portugal, quando um conjunto de amigos se juntam a partilhar um pedaço de pão ou um naco de queijo, é comum cada um sacar da sua navalha para o cortar. A navalha, normalmente de cabo em madeira, torna-se assim um utensílio do dia a dia. Do dia a dia transmontano também fazem parte atiçadores e pás de lareira, em particular naqueles dias mais frios em que a única forma de aquecer a casa é por uns madeiros a arder. E se andarem com atenção nas aldeias, podem reparar nos pica-portas: pegas em forma de cobra ou lagarto que ornamentam os portões de barracões, garagens ou celeiros.
A todos estes objectos o senhor Tibério Delgado dá forma na sua forja e na sua bigorna. E enquanto o “ding, ding, ding” soar pela aldeia de Genísio, saberão que nenhum desses utensílios faltará em nenhuma casa transmontana.