J.R.R. Tolkien, um famoso escritor inglês do século XX, criou um universo fantástico onde, entre outras personagens, havia árvores que falavam e caminhavam. Acho que encontrei o lugar de onde elas vêm…
Na serra da Lousã, no centro de Portugal, todos os anos por volta do Entrudo, as árvores acordam. Como estão paradas o resto do ano, e pelos bosques ainda não há redes sociais, não acompanham as modas, e não têm uma grande noção de estilo. Pegam em roupas e trapos velhos que têm à mão e vestem-se para passear pelas antigas aldeias de Xisto.
Algumas das árvores são simpáticas, outras são verdadeiros demónios. Atiram os seus bugalhos aos visitantes curiosos, e fazem outras tropelias. A algumas até lhes crescem chifres de tão ruins que são.
Mas todas têm uma coisa em comum: gostam de música e de se divertirem. Umas pegam em concertinas, tambores e gaitas de foles, e vão tocando para as outras dançarem, juntamente com os habitantes das aldeias, que já estão acostumados.
Nem todas as árvores são espécies autóctones. Umas vieram de Inglaterra há alguns anos atrás e ali ficaram. Gostaram tanto da paisagem e das gentes, que facilmente criaram novas raízes. Agora fazem questão de participar na festa, integrando-se com as espécies nacionais, e até ajudando a impulsionar e divulgar esta tradição.
Há porém árvores de idade avançada que já têm muita dificuldade em se mover e que não conseguem acompanhar a festa. É o caso de um velho carvalho na aldeia da Pena. Mas as mais novas fazem sempre questão de o visitar e tirar com ele uma foto de família para que não seja esquecido.
No fim do dia, voltam aos seus bosques para adormecer uma vez mais. Pelo menos até ao ano que vem…