Num cantinho quase esquecido do planalto mirandês, perto da fronteira com Espanha, fica uma pequena aldeia chamada Constantim. Numa das ruas dessa aldeia, entre casas de pedra, no cimo de umas escadas encontra-se um atelier. À porta desse atelier está um senhor octogenário que nos convida para entrar, com um sorriso.
Apesar da sua idade avançada, Aureliano Ribeiro continua a trabalhar naquele que tem sido o seu ofício durante grande parte da vida: a capa de honra Mirandesa.
O nome é enganador. Pode levar a pensar que era usada apenas por pessoas ricas e nobres ou em eventos solenes. No entanto, apesar dessa ser aparentemente a sua origem, acabou por ser também adoptada por pastores para protecção contra os elementos. Com efeito, debaixo desta capa pesada de burel (lã), é fácil de nos sentirmos protegidos contra a chuva e a neve.
O Sr. Aureliano faz capas de honra há vários anos. Sentado à sua máquina de costura, iluminado pela luz que entra pela janela, cose as aplicações detalhadas de burel sobre tecidos de lã preta que serão depois aplicadas em locais específicos da capa, perto do capuz.
À medida que os anos foram passando foi aproveitando a experiência que ganhou para começar também a fazer outras coisas, como pequenas bolsas coloridas que vende em feiras.Uma dessas bolsas, que faz questão de mostrar, é uma bolsa para uma flauta pastoril (ou ‘fraita’, como é conhecida nesta região). Num dos entalhes da flauta da madeira, é possível ver uma capa de honra.
Parte da decoração do atelier do sr. Aureliano é composta por instrumentos musicais, o que nos remete para a sua paixão pela música tradicional. A sua mestria não se resume às capas de honra, é também um exímio tocador de ‘fraita’, como faz questão de mostrar. Mas isso é tema para uma próxima história…